O Limiar

Nome:: Tenho adquirido mais nomes do que sonha sua vã existência. Morpheus, Oneiro, Modelador, Kai'Ckul, mas chame-me de Sandman

Local: O Limiar

O que sou?: Algo entre o real e o imaginário. O detentor dos portais que abrigam teus anseios.. sou o senhor do Sonhar..

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Mundo do Sonhar

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07:11
 

Kai'ckul e os contos de fadas...


- E com o que vamos pega-los ahn!? Não existem feijões mágicos Jacoob!!! Seu Molque imprestável!!!
E com esses gritos agressivos o jovem loiro batia a porta. Deixava mais uma vez o irmão desolado naquele quarto do vilarejo que acabavam de chegar. Era noite, as tropas francesas os seguiam por toda a parte. Enganadores de fé era a denominação para os dois irmãos. Mas o povo não precisava saber, desde que eles acabassem por controlar a fé e assim a devoção. Eles seriam sempre gratos para os generais franceses. Ao menos era nisso que Will acreditava.. mas e Jacoob? Ele acreditava em algo mais. E assim que o irmão saiu batendo a porta do quarto na estalagem ele saiu de cima da cama. Os dedos coçavam o alto da cabeça como se pensasse ainda em como convence-lo.. A respiração estava agitada. Talvez porque no fundo tinha medo do que vira na floresta na noite anterior. Ora ele vira as arvores se movendo, e seu irmão também. Vira sim.. não era possível que não tivesse visto.. não poderiam haver mecanismos espalhados por toda a floresta para fazerem as árvores caminhar. E os pés ensaiavam uma dança desengonçada no caminhar até a janela. A lua já estava alta no céu. E ele podia ver alguns camponeses que ainda estavam na entrada da floresta. Podia escutar até mesmo o nome das crianças que eles chamavam.. talvez fosse os ventos que resolviam deixa-lo ainda mais confuso. Ah Will como é que vc podia não acreditar nisto?
- Ele não vai acreditar..
Os olhos arregalaram-se quando escutou a voz. Sentia que o coração cavalgava em tamanha velocidade que mais parecia um cavalo encantado brincando de dançar numa roda de ciganos.. As mãos tocaram o umbral da janela antes que o rosto aceitasse o comando do coração e o fizesse girar sobre os próprios pés.
- Não adianta quantos feijões mágicos possa fazer crescer Jacoob.. .ele nunca irá acreditar...
Engolia em seco e os olhos verdes podiam encontrar-se com os roxos daquele homem de casaca carmim. Jacoob conhecia aqueles olhos.. conhecia aquela casaca. Mas fazia tanto tempo “são feijões mágicos pequeno, vai conseguir matar a fome de sua família.. e tudo que eu peço é a vaca” Jacoob acreditou.. mas os feijões não trouxeram a bonança.. Will os jogou pela janela e Jacke nunca mais os viu.
- Pó-po-por onde você entrou? – A voz saia titubeante como se ele ainda quisesse ter certeza de que não estava dormindo, e as mãos esfregavam os olhos repetidamente, ajeitando os óculos nos segundos seguintes.
O homem descia da penteadeira onde estava sentado. A bengala tocava tão suavemente o chão que sequer parecia que ele saltava sobre a madeira velha. Ela sequer rangia, e oras, ela rangia só de Jacoob respirar.
- Uma pergunta complexa.... eu posso te vindo.. – apontava para a porta – dali.. – e os dedos enluvados em pelica lilás apontavam para a janela – dali.. – e o sorriso brilhava na face pálida e delicada quando tocavam a cabeça de Jacoob – Ou daqui...
O rapaz dava dois passos para trás. Estava desconfiado.. não com medo.. Jacoob não tinha medo, ora vamos a quem queria enganar Jacoob estava em pânico. Queria correr pela parede deixando a marca do próprio corpo a descabelar-se como um buraco feito entre os tijolos.
- Você me vendeu os feijões. E eles não eram mágicos.
- Ora.. claro que eram. Seriam mágicos aos seus olhos.. não aos do seu irmão. Ele não pode ver a magia.. como não pode me ver... se não são mágicos.. como eu.. – e ele movia os dedos entre aquela luva de pelica tão perto dos olhos de Jacke. – posso estar aqui? – E vinham as asas, tão belas e coloridas, em um tom de lilás, carmim e dourado a baterem como se buscassem a liberdade entre aqueles dedos.. a borboleta alçava vôo, diante dos olhos do caçador de maldições. – Ou posso não estar aqui.. como as maldições que vocês perseguem de cidade em cidade. – Sorria batendo de leve na cabeça de Jacoob com o cabo da bengala.
Jacoob o observava e porque a voz do homem parecia querer guiar-lhe para a sua própria cama, para enrolar-se nos lençóis e dormir á beira do fogo quentinho da lareira? Chegava a sorrir bobamente apenas de imaginar a visão. Um copo de leite quentinho... uma cama confortável onde o colchão o balançaria inteiro quando ele pulasse sobre ele, e os lençóis o envolvessem felpudos e macios, para a cabeça repousar em um travesseiro delicioso de penas de ganso que abririam as portas do sonhar.. ah.. o sonhar.. E lá estava o homem, sentado no umbral da janela, os olhos roxos a espreita-lo.. e parecia brincar com algo entre as mãos,.. e foi o brilho desse algo que trouxe Jacke de volta.
- Mas o Will disse que é besteira... – caminhava lentamente para o centro do quarto. – ele não acredita em mim.... – os dedos iam novamente coçar os cabelos. – nunca acreditou...
E o homem sorriu, virava-se para ele brincando com a bengala a bater entre os pés.
- Jacoob Grimm.. seu irmão nunca viu as coisas que você vê minha criança. Ele fechou os olhos da alma cedo demais.. – e dava de ombros – não o culpo. Ele cruzou o limiar antes mesmo que soubesse contar até três. – E descia do umbral caminhando até o jovem rapaz. – Mas não você... você jamais cruzou o limiar Jacoob.. e por isso estou aqui...
O garoto arqueava a sobrancelha, não entendia muito bem o que ele estava falando mas a voz era tão reconfortante.. tão agradável de se escutar... deixava que um longo suspirar escapasse pelas narinas parecendo ganhar vida.. e por segundos ele tinha certeza de que via o ar condensar-se ao sair pelo nariz.. e ganhar forma.. curvas.. moldar-se num pequenino corpo, com asinhas.. e as asas batiam, num “flap” rápido e vigoroso fazendo a densa fumaça que surgia desaparecer dando a visão de uma pequenina fada que deixava Jacoob de boca entreaberta. Ele estendia a mão e aquele pequenino ser pousava tão delicadamente entre seus dedos. O rapaz sorria incrédulo. Ahh.. aquilo era real.. ele estava vendo. E a pequenina fada batia novamente as asas em seu flap decidido erguendo-se da mão do rapaz para se por a circular o homem de cartola.
- Deseja muito que eles acreditem em você não é, meu pequeno Jacoob?
Aquela voz era tão convidativa que fazia o rosto de jacoob segui-la, como se não quisesse perde-la.
- Que-que-quero..
O homem sorriu novamente, tomando-o pelo ombro. As luvas de pelica tocavam o ombro do rapaz, envolvendo-o em um abraço e tinha aquele cheiro.. um cheiro doce que as folhas de eucalipto trazem quando querem brindar o anoitecer reconfortante, aquele cheiro d retorno para casa depois de um dia cansativo e fatigado. O cheiro da sobremesa antes de dormir. E era colocado sentado na cadeira diante de sua escrivaninha. E a caneta era arrastada para frente de si.
- Então conte-os para quem ainda tem a alma aberta meu pequeno..
E o homem retirava da casaca um livro. De capa de couro marrom, belo.. belo como livros de histórias. Como aqueles livros que as mães insistem aem abrir exibindo as gravuras existentes, mostrando um mundo novo repleto de coragem, encantos, dragões e cavaleiros em armaduras douradas. Jacoob erguia os olhos verdes para o homem. Como assim? O que ele queria dizer com aquilo? Contar para quem acreditasse? Mas ninguém acreditava
- Há-Há-Há.. – ria daquela forma meio ridícula, meio escárnio e ajustava os óculos circulares sobre o nariz. – Mas ninguém acredita em mim espertalhão. Acho que nem eu mesmo acredito em mim.
O homem sorria, e deixava que os dedos deslizassem do ombro para os cabelos de Jacoob.. E o que eram aqueles grãozinhos que caiam agora diante de seus olhos? Que os fazia coçar imensamente?
- Conte para quem ainda tem alma aberta Jacoob Grimm.. Conte para as crianças...
A voz vinha quase num sussurro ao ouvido. Os lábios finos e frios do homem tocavam a pele da orelha de Jacoob quando ele sussurrava sibilante.
A respiração parecia faltar a Jacoob naquele momento. Os olhos fechavam-se como se desejasse que aquele homem jamais saísse dali. Era como se tivesse a certeza de um sono tranqüilo e prazeiroso. E as mãos iam até a caneta. Quando os dedos deslizavam sobre a capa do livro. Ele abria.. estava em branco. O homem sorria ao seu lado. E aqueles grãozinhos que não paravam de cair diante de seus olhos fazendo=os coçar como se existisse areia dentro deles.
- Histórias.... – Jacoob sorriu – Contos.. infantis...
- Este é o seu mundo Jacoob... Amanhã virei busca-lo para apresenta-lo ao meu mundo...
E saia de perto deixando que a mão enluvada tocasse a mesa.. levemente
- Ei!! – Jacoob parecia despertar de um sonho fantástico – Qual o seu nome!?
O Homem sorriu de leve, virando-se para ele, e retirava a cartola numa nobre reverência.
- Tenho muitos nomes... mas por hora.. chame-me de amigo...
E a pequena fada sorria para o rosto do homem, como se ensaiasse um beijo roubado na ponta do nariz, e sem mais demora deixava mais um flap vigoroso guia-la para dentro da cartola, antes que o homem a colocasse sobre os cabelos castanhos e lisos novamente. E o vento soprava. Forte e frio naquele quarto, apagando as velas do candelabro. O quarto consumia-se em um breu assustador.. e o mesmo vento que trazia o nome das crianças soprava novamente. Jacoob estava dormindo.. a cabeça sobre o livro aberto.. os dedos sobre uma semente de feijão sobre a mesa, no mesmo lugar onde a mão daquele homem havia tocado.



Kai'Ckul

3 :...Esfregue a areia dos olhos, minha criança...:

13:13
 

Bem vindo ao meu mundo... eu sou Kai'Ckul seu anfitrião



Os pés surgiam naquela calçada imunda, pisando as poças que se juntavam no chão, sujando a calça de linho preta e o sapato impecavelmente lustroso. A ponta da bengala conduzia os pés, despreocupadamente. Dos lábios finos um assovio em que cantarolava uma das canções de seu autor preferido. 9ª sinfonia de Beethoven em Lá maior... Os olhos num tom de roxo eram sua peculiaridade. Ninguém saberia dizer se tratava de uma lente ou alguma anomalia de nascença... O importante é que era roxo comprovadamente roxo. Às vezes girava a bengala no ar enquanto caminhava. O corpo esguio coberto por uma casaca de veludo carmim que quase arrastava no chão e contrastava com a camisa preta de botões. Andava sem pressa. Edward nunca tinha pressa... Para que pressa se a morte...Aaahh! A doce morte do ankh está sempre esperando na esquina mais próxima quando a sua hora chega e não tem... Meus amigos acreditem... Não tem como escapar de sua visita.Parava diante do Pub... Um respirar fundo... E o descansar dos ombros... Os olhos roxos erguiam-se da porta para o nome que brilhava em néon naquela noite em New Orleans. Abriu a porta, o som do blues inundava todo o ambiente... O ruído dos copos trincando na mesa, as garrafas de cerveja sendo abertas o murmurar das conversas... Era recebido na porta pelo hoster que lhe pedia a cartola e a bengala... Deixou os olhos roxos pousarem nos azuis em sua frente e bateu com a bengala levemente na mão que lhe havia sido estendida.
- Já tentou retirar parte de um homem? Pede para que seus clientes deixem a mão... Ou o pé?O rapaz o olhou confuso, esfregando os dedos na palma da mão que havia recebido a bengala em punição.
- Na... Não senhor...Ele arqueava a sobrancelha e esboçava um sorriso doce... Convidativo... Enquanto retirava a mão do bolso levemente passando pelos cabelos loiros e lisos do rapaz de colete negro e avental.
- Então minha criança...Sorria largamente, como sorriem as avós que nos contam historinhas.– Como pode querer pegar parte de mim para guardar, hm? A bengala e a cartola fazem parte de um homem clássico...
Piscava levemente enquanto seguia os passos para entrar no bar. O rapaz não lhe disse mais nada... Apenas passou a mão pelos cabelos, sentindo cair pequeninos grãos de areia. O que era aquilo? Mais um yankee louco provavelmente... Meneava a cabeça enquanto voltava para a porta do Pub para receber outros clientes, que não lhe dariam bengaladas nas mãos. Edward entrava aspirando aquele cheiro. Havia algum tempo que não vinha a aquele lugar... A bengala tocava o chão de madeira de lado, conduzindo-o para o balcão. Sentava, erguendo a parte de trás da casaca, descansando a bengala de lado e pousando as mãos, vestidas numa luva de pelica lilás sobre o balcão.
- Boa noite Dr... - O Barman adiantava-se, com um menear de cabeça e a limpar aquele balcão lustroso de marfim. – O que vai ser?
Edward sorriu largamente, era bom ser lembrado, melhor ainda quando nunca era esquecido. E existiam pessoas que tinham este dom. O de nunca esquecer. Nunca deixar de acreditar. Conhecia aquele barman desde que ele era uma criança sapeca que a mãe tinha de buscar no quintal de casa para dormir. E não foram poucas as vezes que o encontrava dormindo sobre o monte de feno do estábulo. E ele ainda lembrava...
- Olá Steve... Como vai? - Os olhos roxos prendiam-se nos do rapaz, como se pudessem adentrar pela alma naquele momento.– O de sempre, eu creio... Absinto... Mas não desses recém industrializados que tiraram todo o encanto da bebida... Aquele da adega... Guardado a sete chaves para clientes especiais.
Steve sorriu, lembrava-se do Dr. Como não lembrar? Dr. Von Cassidy e seus gostos exuberantes, a começar pelo vestir. Meneou a cabeça afirmativamente e entrou pela portinhola que ficava atrás da estante de bebidas voltando alguns minutos depois, trazendo a garrafa de absinto produzida a alguns séculos atrás, guardada e conservada a sete chaves, e a taça que se fazia jus a bebida. Comprida com serpentes de metal enroscadas por ela, desde a sua base até o corpo de cristal puro, como um daqueles itens medievais que se vê em filmes do Pendragon. E enchia a taça do líquido verde. Poderia jurar que por alguns segundos ali diante daquele homem estaria vendo no fundo da taça pequenas fadinhas luminosas a dançar no fundo da bebida. Rodeando umas as outras e ele abaixava um pouco o rosto para ver melhor... Talvez fosse o sono... Trabalho demais... E a sensação de que havia areia em seus olhos, obrigando as pálpebras a fecharem... Coçou os olhos para focar a visão e as fadinhas pareciam desaparecer, Steve sacudiu levemente a cabeça, levantando o rosto, tendo seus olhos castanhos a encontrar-se com os roxos de Edward que o observava num sorrir misterioso.
- Hã... Er...Coçou a nuca levemente, obrigando-se a sair daquele estado de letargia.– Me desculpe Dr... Eu... Eu... Pensei... Que... Ahn... Tinha visto...
- Restos de rolha...Concluiu o pensamento como se pudesse ler o que o jovem tentava dizer... A desculpa que tentava arrumar. Sabia que não era isso que ele vira, ou ao menos achava ver, mas um psiquiatra aprendia a analisar um paciente... E todas as pessoas se tornavam pacientes em potencial.– Eu entendo Steve...Pegava a taça com seu precioso líquido e levava aos finos lábios. Fechando os olhos para aproveitar o sabor daquela iguaria.
- Ahnnn...Sorriu sem jeito.– Sim... Sim... É isso Dr...
Nunca soube por que a presença daquele homem era tão convidativa... Era tão reconfortante e não lhe dava a vontade de ir embora, na verdade várias vezes ficara tentado em deixar o balcão e ir atrás do conceituado psiquiatra Edward Von Cassidy e suas excentricidades. Deveria ser algum recurso da psicanálise. Edward percebia... Sempre percebera a facilidade que algumas pessoas tinham de se entregar a ele e a suas vontades e sorriu... Girando no banco para olhar o salão do bar. Sentindo o gosto de ervas da fada verde lhe tomar o palato. Naquele dia ele não brincaria com o pobre Steve, ou qualquer um que se aproximasse. Estava esperando pessoas... Pessoas que não via há muito tempo. Pessoas cujo reencontro era inerente à vontade dos deuses.


Kai'Ckul

0 :...Esfregue a areia dos olhos, minha criança...: